Governo estuda reformular remuneração da caderneta de poupança para redirecionar recursos ao crédito habitacional, impulsionando financiamentos, vendas e locações de imóveis em todo o país
O governo federal está avaliando alterações significativas nas regras de remuneração da caderneta de poupança. O objetivo é conter o fluxo de grandes investidores que vêm migrando seus recursos para esse tipo de aplicação e, ao mesmo tempo, abrir espaço para a liberação de até R$ 40 bilhões em recursos destinados ao crédito imobiliário. A medida, se colocada em prática, pode se tornar um importante fôlego para a cadeia da construção civil, impulsionando o volume de financiamentos habitacionais e movimentando o mercado de imóveis em todo o país.
Nos últimos meses, com a queda da taxa Selic, a rentabilidade da poupança voltou a ser atrativa, especialmente para investidores institucionais e de maior porte. Isso gerou uma movimentação atípica de recursos para essa aplicação, que tradicionalmente é utilizada por pequenos poupadores. O aumento expressivo do volume alocado na poupança passou a preocupar o governo, uma vez que a migração de grandes volumes pode desorganizar o sistema financeiro, reduzir o interesse por títulos públicos e comprometer a capacidade de financiamento do Estado.
Diante desse cenário, a equipe econômica avalia formas de desestimular a entrada de grandes investidores na poupança e, ao mesmo tempo, aproveitar esse volume de recursos para financiar o setor imobiliário. Uma das ideias em estudo é a criação de um modelo de remuneração progressiva, que mantenha os ganhos atuais apenas para pequenos investidores e limite a atratividade para grandes aplicações, como fundos e instituições financeiras.
Segundo estimativas apresentadas por especialistas, as mudanças podem liberar cerca de R$ 40 bilhões para o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que é uma das principais fontes de financiamento habitacional no Brasil. Esse volume adicional de crédito poderia aumentar a oferta de financiamento para compra, construção e reforma de imóveis, reduzir o custo do crédito e dar novo impulso ao setor da construção civil, especialmente em um momento em que o mercado busca estabilidade após oscilações nos últimos anos.
Além do impacto direto na construção, a medida deve gerar reflexos positivos também no mercado de venda e locação de imóveis residenciais e comerciais. Com mais crédito disponível, a tendência é de aumento na procura por imóveis à venda, especialmente nas faixas de financiamento popular e médio padrão. Imobiliárias, corretores e investidores devem observar um movimento mais aquecido no fechamento de negócios, o que também pode beneficiar proprietários que buscam alugar seus imóveis com mais agilidade.
Apesar do otimismo, o governo deve enfrentar resistência por parte do setor financeiro e de parlamentares defensores dos direitos dos pequenos poupadores. Alterar as regras da poupança exige mudanças legais e pode gerar controvérsias, especialmente se houver percepção de que a rentabilidade será prejudicada. Por isso, qualquer proposta deverá ser cuidadosamente calibrada para não afetar a confiança dos investidores nem gerar fuga de capital.
Especialistas alertam que o sucesso da iniciativa dependerá de um desenho técnico bem estruturado, com salvaguardas que evitem distorções no sistema financeiro. O Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (CMN) devem atuar com cautela para garantir transparência, estabilidade e previsibilidade no processo de transição.
Enquanto isso, o setor imobiliário acompanha com atenção. Incorporadoras, construtoras, corretores e imobiliárias veem a possibilidade como uma oportunidade estratégica para ampliar o acesso à moradia, movimentar os estoques de imóveis e atrair novos compradores e locatários. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também já foi acionada para participar das discussões e avaliar os impactos operacionais da medida.
Se concretizadas, as mudanças na poupança podem inaugurar uma nova fase para o crédito imobiliário no Brasil, em um momento no qual a redução da Selic e o controle da inflação formam um ambiente mais favorável para investimentos de longo prazo. O cenário é promissor, mas exige articulação entre governo, setor privado e sociedade para garantir equilíbrio, segurança e resultados efetivos.